13 de Outubro de 1307 - Julgamento dos Templários

Ordem se tornou famosa na Terra Santa e adquiriu poder e riqueza, atraindo a inveja dos feudais e a cobiça dos soberanos.
Na manhã de 13 de outubro de 1307 (sexta-feira), todos os Templários da França são presos por ordem do rei Felipe IV o Belo. Esse ato de violência arbitrária pôs fim a uma Ordem de Monges-Soldados, de mais de dois séculos, que se tornou famosa na Terra Santa e que adquiriu poder e riqueza, atraindo a inveja dos feudais e a cobiça dos soberanos.
A Ordem dos Templários nasceu na Terra Santa em 1119, após a Primeira Cruzada, por iniciativa do cavaleiro Hugues de Payns que queria proteger os peregrinos que visitavam Jerusalém. Foi oficializada pelo Concílio de Troyes,nove anos depois, por iniciativa de São Bernardo de Claivaux.
O prestígio dos monges-cavaleiros de capa branca marcada por uma cruz vermelha era imenso durante os dois séculos de cruzadas. O malgrado foi a traição do grande-mestre Gérard de Ridefort na batalha de Hattin, em 1187.
A oitava e derradeira cruzada acabou com a morte trágica do rei São Luis em Tunis em 1270. Desde então, as últimas possessões francas na Terra Santa caem definitivamente nas mãos dos muçulmanos.
No começo do século 13, a Ordem dos Templários, expulsa da Palestina, dispunha ainda de uma força militar impressionante de 15 mil homens, bem mais do que qualquer rei da cristandade. Contudo, de soldados, os Templários se converteram em usurários, tendo perdido completamente de vista a reconquista dos Lugares Santos.
Ocorre que consideráveis doações tornaram a ordem bastante rica e a transformaram numa das principais instituições financeiras ocidentais e, aparentemente, a mais segura delas. Passou, desse modo, a gerir, como verdadeiros banqueiros, os bens da Igreja e dos reis do Ocidente (Felipe o Belo, João Sem Terra, Henrique III, Jaime I de Aragão ...
As sedes que abrigavam os monges-soldados, com vocação para a caridade um tanto reduzida, cobriam o conjunto da Europa mediavel como uma verdadeira teia de aranha. Pode-se ainda hoje ver ao sul de Angouleme, França, uma capela, sede de uma das ramificações dos templários, com as paredes ornadas de pinturas que evocam as Cruzadas.
No entanto, a opinião europeia começa a se indagar sobre a legitimidade da Ordem. O próprio rei Felipe o Belo lembrava-se que os Templários tinham se recusado a contribuir para o resgate de São Luis quando foi feito prisioneiro por ocasião da Sétima Cruzada. Defendendo uma ideia já antiga, levantada por São Luis e os papas Gregório X, Nicolau IV e Bonifácio VIII, Felipe desejava a fusão da Ordem dos Templários com sua concorrente a Ordem dos Hospitalários a fim de constituir uma força suficiente para preparar uma nova cruzada, desejada pelo papa Clemente V.
O tema foi colocado na ordem do dia de diversos concílios, chegando a ser elaborado um projeto pelo qual Luis de Navarra seria o grão mestre da nova Ordem. Seu dramático fracasso decorreu da oposição obstinada do grão mestre Jacques de Molay bem como da agressividade do ministro do rei, Guillaume de Nogaret.
Todos os templários da França foram finalmente presos pelos senescais e bailios do reino ao cabo de uma operação policial chefiado em absoluto segredo por Nogaret. Interrogados sob tortura pelos comissários reais foram depois enviados aos inquisidores dominicanos.
Entre os 140 templários de Paris, 54 foram levados à fogueira, acusados de sodomia ou de crimes como cuspir sobre a cruz ou de "beijos impudicos". A população via nesse episódio a confirmação das 'terríveis suspeitas' sobre a crueldade dos templários e sua conivência com as forças do Mal.
A iniciação na Ordem do Templo.
O contingente Templário era composto por escudeiros, ferreiros, serviçais, clérigos, sargentos e cavaleiros. Esse último grupo é o que conhecemos das ilustres imagens de fortes guerreiros com suas cotas de malha metálicas e o manto branco com a cruz rubra no peito. Esses sim eram os Cavaleiros Templários, a "tropa de elite" do exército cristão na Palestina e os únicos que dentro da organização templária passavam por um tipo de ritual de iniciação. Mas como era esse ritual? Existia algo de profano ou macabro nesse ritual?
Pelo costume da cavalaria medieval, aos 21 anos o jovem escudeiro era investido como cavaleiro na presença de um nobre que o apadrinhava. A iniciação na Ordem do Templo era algo posterior à investidura do cavaleiro.
Não existia nenhum tipo de investigação da vida do candidato ou "futuro templário", mas no momento da solicitação do ingresso, é possível considerar que o alto comando fazia uma "sabatinada" do candidato, podendo até mesmo vetar o ingresso do mesmo na Ordem.
O novo templário era admitido em uma cerimônia chamada de "Recepção", composta por 12 cavaleiros presididos pelo Grão-Mestre ou seu representante legal na Ordem, que na ocasião respondia pelo nome de "Receptor". Essas iniciações eram feitas em "fortalezas-conventos", ou até mesmo em uma Igreja. A reunião era chamada de "Capítulo". O jovem que desejava entrar para a irmandade era chamado de "noviço" (quando de origem mais humilde) ou "aspirante". Ele ficava do lado externo do "Capítulo" e batia de qualquer modo à porta para mostrar que não sabia a forma correta para ser recebido. Então o "Receptor" perguntava a todos os presentes se existia alguma objeção para a entrada do "aspirante" na fraternidade. Caso não houvesse, o cerimonial continuaria. Por três vezes eram enviados dois irmãos templários que faziam indagações sobre as intenções do "aspirante". Na terceira vez as perguntas eram feitas à porta aberta, para mostrar que o "Capitulo" aceitaria aquele que pedia ingresso.
Agora, dentro da reunião do "Capítulo", o "aspirante" ouvia o "Receptor" apresentar as tribulações da vida dos "Milicianos de Cristo", que podem ser resumidas nos seguintes aspectos:
- Nunca discutir as ordens de seus superiores;
- Privar-se de descanso ou sono quando as necessidades de batalha se impuserem;
- Ser devoto ao Senhor e a Nossa Senhora;
- Guardar-se do pecado;
- Fazer voto de pobreza e de penitência;
- Manter-se saudável;
- Nunca matar um cristão;
- Nunca negociar com muçulmanos.
Sempre após as falas do "Receptor", o "aspirante" deveria dizer: "Sim Senhor, se Deus quiser". Após essa apresentação, o candidato era levado à Bíblia para prestar o juramento. Antes de fazer esse ato solene, ele declarava que não era casado ou estava noivo, que não possuía dívidas, que não participava de nenhuma Organização similar aos Templários, que estava em boa saúde, que não havia subornado nenhum templário com o objetivo de entrar na Ordem e que não era excomungado pela Igreja.
Logo após o ato do juramento da fraternidade era colhido do iniciado os votos de pobreza, de castidade, de fidelidade à Igreja, aos seus superiores e à defesa da cristandade na Palestina. Sempre ao final de cada voto, o iniciado dizia: "Sim Senhor, se Deus quiser".
Depois de assumir seus compromissos, o novo templário era revestido com o manto branco com a cruz rubra, característico dos cavaleiros do Templo. Após isso o "Receptor" garantia ao novo irmão os benefícios da "Casa do Templo": pão, proteção, um teto seguro e a salvação da alma enquanto fosse fiel aos seus juramentos como cavaleiro. Todos então se voltavam para o Capelão, que entoava o Salmo 133 e fazia a oração do Espírito Santo, dando em seguida o "beijo da paz" no novo irmão, selando a fraternidade. Esse beijo era dado de fato na boca, prática que pode parecer um tanto estranha, mas temos que levar em conta a tradição medieval. Nas ordenações sacerdotais daquela época, esse beijo transmitia o "alento vital" e a comunhão fraternal. Até hoje existem resquícios do "beijo da paz" dentro da própria liturgia católica, uma vez que os sacerdotes beijam seus instrumentos de culto.
Antes de encerrar a reunião, o "Receptor" advertia o novo templário sobre os possíveis castigos em caso de transgressão de seus votos. A reunião era encerrada quando o "Receptor" dizia: "Vos dissemos o que deveis fazer e do que deveis vos resguardar; e se não vos dissemos tudo, é porque dizer não podemos até que no-lo soliciteis. E que Deus vos faça agir bem. Amém". Assim então estava encerrada a iniciação do novo irmão.
Durante o processo de investigação da Inquisição sobre os Templários, muito foi apontado sobre o possível costume de atos profanos, como beijar partes intimas de outro cavaleiro, cuspir na cruz ou até mesmo quebrá-la e negar Jesus Cristo três vezes. Mas, como visto acima, essa prática não integrava o cerimonial do ritual de "Recepção" do candidato, então como tais acusações foram levantadas contra a Ordem?
Em 1308, um ano após a prisão de todos os membros da Ordem do Templo na França, uma comissão nomeada pelo Papa Clemente V teve contato com 72 membros da Organização, que foram levados diante do Papa com o objetivo de confessarem seus crimes contra fé. Eram prisioneiros sem nenhuma importância dentro da hierarquia de comando dos Cavaleiros Templários, mas confessaram algo muito importante para o Sumo Pontífice. Existia um tipo de "teste" obrigatório e violento logo após o ritual de "Recepção", que poderia se confundido com atos de heresia. O novo cavaleiro era obrigado a cuspir na cruz e a renegar Cristo. Isso poderia parecer uma loucura, mas tinha um fundamento militar para a Organização. Os Templários buscavam simular o que o cavaleiro teria que fazer caso caísse nas mãos dos inimigos islâmicos. Ele poderia ser torturado e obrigado a negar a fé cristã e uma vez isso sendo simulado em um momento que o novato não estava preparado para reagir, como logo após a sua iniciação, poderia acabar sendo um teste de autocontrole e determinação do cavaleiro. Aqueles que se mostrassem firmes poderiam ser enviados para os postos nas frentes de batalha e aqueles que tivessem uma reação covarde seriam designados para postos administrativos. Usando um simples exemplo, Jacques De Molay, logo após a sua iniciação foi enviado para a Palestina com o intuito de prestar serviço na frente militar. Já Hugues de Pérraud sempre serviu ao Templo em cargos administrativos no Ocidente, nunca tendo contato com o inimigo islâmico.